1º BRINQUEDO
Os meus pais viveram uma vida bastante atribulada
Quando eu tinha pouco mais de 2 anos fomos viver para um local mais ou menos isolado,
onde o matagal abrigava todo o tipo de animais, cobras, lagartos, sardões etc. e que andavam assustados e alguns até sem os sus ninhos, porque ali bem perto construía-se mais uma das barragens do Tejo, a de Belver.
A minha mãe tinha medo de todos estes bichos e, acho, que eu herdei a repugnância dela por todos os animais rastejantes.
A nossa casa, móveis, roupas e brinquedos tudo tinha ficado em Lisboa.
Fomos por três meses e ficámos 10 anos.
Num Natal, em que o meu pai estava doente havia já muitos meses, em que não havia Segurança Social, nem baixa, bem Rendimento Social de Inserção, nem nada, a não ser a caridade e a boa vontade dos vizinhos, um casal com 4 filhos pequenos ,numa terra em que só havia o trabalho do campo, que a minha mãe não sabia fazer, seria um Natal bem triste se, de Lisboa, a única irmã que o meu pai tinha não nos tivesse enviado um cesto.
Era um cesto algarvio, feito de canas entrançadas, que foi uma autêntica arca do tesouro
Não me recordo de quase nada do que levava dentro. Havia mercearias mas não me lembro o quê.
Mas, perante os meus olhos extasiados, saiu da "arca do tesouro" um automóvel de lata, que andava com a ajuda de uma manivela, para o meu irmão e uma máquina de costura, também em lata mas que cozia, para mim.
Nesse ano esse foi o nosso MILAGRE DE NATAL.
Deus usou a minha tia para o fazer.
E, passados quase 60 anos, eu ainda o recordo.