PARDALITOS
Passei o dia de ontem na Reboleira, com os filhos mais velhos e os netos mais pequeninos. Depois do almoço resolvemos ir ao Parque Infantil, que fica mesmo ao pé da casa deles.
A tarde estava quente e ensolarada. Como o parque fica numa praceta, as copas das árvores protegem-no do sol e os prédios do vento.
Normalmente está cheio de crianças, na sua maioria romenas, o que por vezes se torna um problema porque, como são sempre muitos, revezam-se nos baloiços e não deixam as outras crianças andar. Quase sempre é necessário um adulto impor-se para que um deles ceda o lugar e sempre de má vontade.
O dia de ontem foi como os outros, embora o Gonçalo tenha ficado com a cara arranhada por uma pequenina, tão pequenina como ele, que lhe queria passar à frente no escorrega.
Mas o que marcou o dia foi outro acontecimento.
A certa altura reparei num pardalito que esvoaçava num ramo sem conseguir levantar voo. Por vezes ficava de cabeça para baixo, depois lá conseguia endireitar-se e ficar agarrado com as duas patinhas, para de novo voltar a cair. Quase parecia um morcego.
Fui ver de perto e acabei por perceber que ele tinha uma pata presa num fio que estava agarrado ao ramo.
A árvore era demasiado alta e não tinha ramos nem ramificações baixas que permitissem subir para o soltar. Alguém falou em chamar os Bombeiros mas foi motivo de riso: Por causa de um pardal?
Nós sentimo-nos impotentes para o ajudar. E fomo-nos embora sem coragem para continuar a vê-lo esforçar-se inutilmente para se soltar.
Não sei se cortou a patinha, como alguém disse e voou ou se morreu e ainda lá está pendurado. Não tive coragem para lá voltar.
Só pensei que por vezes nós também somos pardalitos, apanhados nas armadilhas inesperadas que a vida tem.
Neste momento eu sinto-me um.