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rodrigando

Aqui falo de mim, dos que amo, dos meus sonhos, das minhas alegrias e tristezas e de tudo o que gosto...ou não.

rodrigando

Aqui falo de mim, dos que amo, dos meus sonhos, das minhas alegrias e tristezas e de tudo o que gosto...ou não.

RECORDAÇÕES

rodrigando, 23.08.09

 

O barco do "ti" sete - sete

 

Quando eu tinha por volta dos 3 anos o meu pai (loiro e lindo de morrer) ,foi trabalhar ali mesminho para a fronteira da Beira com o Ribatejo e com o Alentejo, na construção da Barragem de Belver. 

Escusado será dizer que aonde há muitos homens,sózinhos e a ganhar bem,há sempre bares com certo tipo  de empregadas. Ali, no meio de nada,não foi excepção.

De tal forma que a minha mãe pegou nas três filhas e com o 4º na barriga , foi de charola de Lisboa até lá, na tentativa de não deixar o meu pai enredar-se em tais  meandros. O mesmo já tinham feito aliás, outras mulheres.

As minhas primeiras recordações são de lá. A linha do comboio de um lado,o Tejo do outro e no meio o casarão meio arruinado onde viviam as familias dos trabalhadores e que actualmente está submerso .

Recordo-me das cobras,dos lagartos dos sardões (deve vir daí a repugnância a animais rastejantes)  e dos buracos aonde se escondiam os contrabandistas.

Hoje, ao ver as fotos do João Palmeira, assaltou-me outra recordação:O barco do "ti" sete sete ! Era um barco com dois bicos,que tinham uma tampa e nessa tampa havia um quadrado em que de um lado se encaixava a "ti" Ana ,mulher do pescador e que também ia para o rio com ele.

Lembro-me que pescavam lampreias (havia de ser agora)!

Sinto-me verdadeiramente surpreendida.Ao  olhar aquela foto foi como se um filme se desenrolasse à minha frente,vi as caras enrugadas,curtidas dos anos e dos trabalhos,vi o barco,recordei-me dos nomes,recordei-me de ver a senhora enfiar-se naquele minúsculo quadradinho.

Recordei-me de mim, a quem a minha mãe tinha que vestir calções, como os rapazes, para que  não me despisse por causa do calor abrasador do verão..

Lembo-me da "Taberna do Benjamim" onde os homens se juntavam para jogar às cartas e onde as mulheres compravam mercearias.

Lembro-me da  "mulher da caseta", guarda da linha férrea, que varria a mesa onde comia

com a  mesma vassoura com que varria o chão.

Vivi ali três anos.

De vez em quando tinha recordações soltas mas hoje bastou uma simples fotografia (linda,sem dúvida) para me trazer à memória as minhas primeiras recordações.

Obrigada João Palmela.