FALAR COM AS FLORES
A minha mãe acreditava que falar com as plantas, enquanto se trata delas, fá-las crescer mais e mais bonitas.
Assim como se lhes fizesse aumentar o ego.
Não sei se é verdade ou não mas, numa pequena marquise da cozinha, ela tinha um autêntico jardim.
Nos dias de calor, entrar naquele cantinho da casa, com plantas e flores coloridas, dava-nos uma sensação de sossego, de repouso, de tranquilidade, indescritiveis.
Quando adoeceu começou a dá-las às pessoas de quem gostava. A mim deu-me uma que, coincidência ou não, secou poucos dias depois da sua morte.
Hoje esteve um dia de calor sufocante e, apesar de o meu quintal não receber o sol directamente senão só num cantinho,à noite fui regar as minhas roseiras e hortenses.
As folhas estavam caídas e as flores, coitadinhas, pareciam implorar por água.
Demorei-me a regá-las. Sabia-me bem o cheiro da terra molhada.
Tenho um banco de jardim e deixei-me lá ficar um pouco sentada a saborear uma ligeira brisa que, entretanto se levantou.
A dado momento senti algo roçar-me ao de leve no cabelo. Assustei-me. Pensei nalguma aranha ou em qualquer outro bicharoco.
Mas não. Era apenas uma flor de hortense agitada pela brisa e eu senti como se fosse ela a agradecer-me pela água que lhe tinha dado.
Então recordei-me que a minha mãe dizia que as flores também falam connosco. Nós é que não temos sensibilidade para as perceber.
Será?